By Pedro Galani
O soldado Bradley Manning, preso pelo vazamento de documentos ao site WikiLeaks, está sendo forçado a dormir nu em sua cela, denunciou seu advogado, que alega ser uma punição por uma "piada sarcástica" do soldado sobre as condições de seu confinamento.
Manning permanece preso no centro penitenciário dos Corpos de Infantaria da Marinha em Quantico (Virgínia) desde junho de 2010, quando foi acusado pelas autoridades militares de descumprir o Código Militar ao supostamente vazar milhares de páginas de documentos secretos de guerra ao site WikiLeaks.
Um porta-voz do centro, sargento Brian Villiard, disse ao jornal "Washington Post" que Manning passou boa parte dos últimos oito meses dormindo apenas com uma cueca boxer por ser um prisioneiro com risco de se ferir.
Desde quarta-feira, contudo, os militares exigem que Manning retire também a cueca. "A intenção não é causar nenhuma humilhação ou vergonha", disse Villard. "A intenção é garantir a segurança do detento e garantir que ele seja capaz de ir a julgamento".
Questionado pelo jornal, contudo, Villiard alegou regras de proteção de prisioneiros para não explicar exatamente como Manning poderia impor risco ao próprio bem-estar com sua cueca. Ele disse apenas que as circunstâncias exigem a medida, que valerá até a próxima semana --quando será revisada.
Um comentário:
WikiLeaks e os mitos da democracia
(publicado na revista Caros Amigos)
A notoriedade conquistada pelo WikiLeaks teve inúmeros efeitos positivos, louvados à exaustão. Também conhecemos os questionamentos de seus adversários, alguns bem espinhosos e insolúveis, como os que debatem a necessidade de proteger dados governamentais estratégicos. Passado o furor das polêmicas iniciais, porém, é necessário apontar alguns equívocos menos evidentes de ambas as facções.
As informações divulgadas trouxeram pouca novidade àquilo que o leitor atento de jornais já sabia há décadas. Mesmo a infame perseguição a Julian Assange é típica do regime político em vigor nos EUA, que sempre combateu antagonistas com os instrumentos usados pelas chamadas ditaduras contra seus dissidentes. Assange, indefeso como qualquer cidadão comum, jamais escaparia das armadilhas jurídicas, econômicas e jornalísticas que esmagam quem ousa confrontar o “sistema”.
Apesar do discurso iconoclasta, ele precisou recorrer à mídia corporativa para legitimar-se e salvar a própria pele. Governos e empresas atingidos superaram o breve embaraço e voltaram às atividades obscuras de praxe. Assange serviu para elevar a audiência e aprimorar a blindagem de seus inimigos, e depois foi descartado. Pagou um preço demasiado apenas para confirmar que não existe liberdade de imprensa ou direito à informação no mundo real do poder, que esses princípios ocos alimentam fantasias convenientes à natureza totalitária da farsa democrática.
A ilusória força mobilizadora da internet ameniza nossa amedrontada submissão às engrenagens que não podemos (e talvez não queiramos) destruir. É enganosamente confortável denunciar injustiças e violências no ambiente inofensivo da virtualidade. O ativismo eletrônico, ainda que necessário, não basta para operar mudanças efetivas no cotidiano das populações. E pode também levar a inúteis sacrifícios pessoais.
www.guilhermescalzilli.blogspot.com
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